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Boletim da IACM de 3 de fevereiro de 2016

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Alemanha — Governo apresenta um projecto de lei que torna possível incluir a prescrição de flores de cannabis com receita médica e força os seguros de saúde a reembolsar medicamentos à base de cannabis, em certos casos

A 7 de Janeiro o Ministério da Saúde apresentou um projecto detalhado para uma lei, que criaria uma agência estatal da cannabis para regulamentar o cultivo e a distribuição de cannabis para as farmácias. Mais pacientes teriam acesso regulado à droga sob prescrição médica e paga pelo seu seguro de saúde, de acordo com as medidas delineadas na proposta de lei. Organizações e associações de saúde, incluindo a alemã ACM (Associação para a Cannabis como Medicamento), foram convidadas a comentar o projecto até 5 de Fevereiro. Os pacientes teriam acesso a medicamentos à base de cannabis (flores de cannabis, extractos, dronabinol, nabilone) reembolsados, quando nenhum outro tratamento funcionasse para eles. A 1 de Outubro de 2015, 527 pacientes com pelo menos 60 doenças diferentes - incluindo dores crónicas, doenças inflamatórias, doenças do foro psiquiátrico, doenças neurológicas, perda de apetite e náuseas - foram legalmente autorizados a obter cannabis, a expensas suas, porque outros tratamentos não são suficientemente eficazes.

Actualmente, é necessária uma isenção do Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos para ter acesso a cannabis. No futuro, cada médico poderá prescrever flores de cannabis, que estará disponível nas farmácias. A quantidade máxima a ser prescrita será 100g por mês, mas esse valor pode ser excedido em casos justificados. De acordo com o projecto, a agência de cannabis será instalada no Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos. A agência não só vai supervisionar a produção e distribuição de produtos de cannabis, mas também definir o preço máximo da cannabis nas farmácias. Os pacientes que queiram ver os seus gastos reembolsados, têm de participar no estudo, a realizar até o final de Dezembro de 2018, para obter uma base para outras decisões sobre o reembolso por seguros de saúde a partir de agosto 2019.

Declaração do Ministério da Saúde da Alemanha de 7 de Janeiro de 2016

Ciência/Humanos — O canabidiol reduz a frequência de crises em epilepsia de crianças e adultos jovens de acordo com estudo clínico aberto

O canabidiol (CBD) pode reduzir a frequência das crises e ter um perfil de segurança adequado em crianças e jovens adultos com epilepsia altamente resistente ao tratamento. É este o resultado de um estudo aberto com 214 pacientes realizado entre 15 de Janeiro de 2014 e 15 de Janeiro de 2015, em vários centros em todos os EUA (Nova York, Filadélfia, Boston, Chicago, San Francisco, Miami, Houston, Atlanta, Salt Lake City, Winston Salem, Columbus). Os pacientes receberam por via oral CBD a 2-5 mg/kg de peso corporal por dia, com a dose a ser aumentada lentamente até à intolerância ou até uma dose máxima de 25 mg/kg ou 50 mg/kg por dia (dependendo do local de estudo). 162 (76%) pacientes que tiveram pelo menos 12 semanas de acompanhamento após a primeira dose de canabidiol foram incluídos na análise de segurança e tolerabilidade e 137 (64%) pacientes foram incluídos na análise de eficácia.

No grupo de segurança, 20% dos pacientes apresentaram síndrome de Dravet e 19% dos pacientes apresentaram síndrome de Lennox-Gastaut. Os demais pacientes tiveram epilepsias intratáveis de diferentes causas e tipo. Os eventos adversos foram relatados em 79% dos 162 pacientes no grupo de segurança. Os eventos adversos relatados em mais de 10% dos pacientes foram sonolência (25%), perda de apetite (19%), diarreia (19%), fadiga (13%), e convulsão (11%). Cinco pacientes (3%) interromperam o tratamento devido a um evento adverso. Eventos adversos graves foram relatados em 30% dos pacientes, incluindo uma morte súbita inesperada considerada sem relação com a ingestão de CBD. 12% dos pacientes tiveram efeitos adversos graves possivelmente relacionados com o uso do canabidiol, sendo o mais comum o estado epiléptico (6%). A frequência mensal média de convulsões motoras foi de 30,0, antes do início do estudo e 15,8 no período de tratamento de 12 semana. A redução média de ataques motores mensais foi de 36,5%.

Devinsky O, Marsh E, Friedman D, Thiele E, Laux L, Sullivan J, Miller I, Flamini R, Wilfong A, Filloux F, Wong M, Tilton N, Bruno P, Bluvstein J, Hedlund J, Kamens R, Maclean J, Nangia S, Singhal NS, Wilson CA, Patel A, Cilio MR. Cannabidiol in patients with treatment-resistant epilepsy: an open-label interventional trial. Lancet Neurol. 13 dez 2015. [na imprensa]

Ciência/Humanos — Pré-tratamento com o CBD não influenciou efeitos da cannabis fumada

O CBD (canabidiol), que foi administrado a indivíduos saudáveis 90 minutos antes de terem fumado um cigarro de cannabis, não influenciou os efeitos psicológicos nem a frequência cardíaca. Os cientistas do Instituto New York State Psychiatric e do Departamento de Psiquiatria da Columbia University Medical Center e outras instituições publicaram estes resultados na revista Neuropsychopharmacology. Os cientistas realizaram um estudo de laboratório duplo-cego, onde 31 fumadores de cannabis receberam 0, 200, 400 ou 800 mg de CBD por via oral ou cannabis com uma concentração de THC de 0,01% (inativo) ou cerca de 5,5% (5,3-5,8 %) em 8 ocasiões diferentes.

O CBD, que por si só não produziu efeitos psicoactivos ou cardiovasculares significativos, não alterou significativamente as classificações subjetivas de "subida" ou frequência cardíaca. A auto-administração de cannabis, os efeitos subjetivos e os níveis de cannabis não variaram em função da dose de CBD em relação às cápsulas de placebo. Os autores concluíram que as suas "descobertas sugerem que o CBD oral não reduz os efeitos subjetivos de reforço, fisiológicos ou positivos da cannabis fumada.

Haney M, Malcolm RJ, Babalonis S, Nuzzo PA, Cooper ZD, Bedi G, Gray KM, McRae-Clark A, Lofwall MR, Sparenborg S, Walsh SL. Oral Cannabidiol does not Alter the Subjective, Reinforcing or Cardiovascular Effects of Smoked Cannabis. Neuropsychopharmacology. 28 dez 2015. [na imprensa]

Notícias

EUA — Governador de Vermont quer legalizar a cannabis

A 7 de Janeiro, o governador de Vermont, Peter Shumlin, disse que iria tentar legalizar a cannabis através do processo legislativo, em vez de através de iniciativas de eleitor, pela primeira vez nos Estados Unidos. Reuters de 7 de Janeiro de 2016

Ciência/Humanos — Consumo moderado de cannabis pelos adolescentes sem efeitos sobre o desempenho educacional

Num estudo de longo prazo com 2235 adolescentes não houve associação entre o uso de cannabis aos 15 anos e o desempenho educacional aos 16. Os autores concluíram que "o uso moderado de cannabis em adolescentes pode ter menos impacto cognitivo do que levantamentos epidemiológicos de gerações mais velhas tinham sugerido anteriormente".

Unidade de psicolofarmacologia clínica, Universidade College London, Reino Unido.

Mokrysz C, et al. J Psychopharmacol. 6 Janeiro 2016. [na imprensa]

Ciência/Animais — Agonistas do receptor CB2 podem reduzir o desenvolvimento de tolerância à morfina em dor oncológica

Em ratos com dor neuropática devida a cancro, a injecção de um canabinóide sintético (AM1241), que se liga ao receptor de CB2, no canal espinal reduziu a tolerância à morfina.

Hospital do Câncro da Universidade de Medicina de Harbin, China.

Zhang M, et al. Anesth Analg. 30 dez 2015. [na imprensa]

Ciência/Animais — O CBD exerce efeitos semelhantes aos antidepressivos em ratinhos

Num modelo de depressão em ratinhos, o CBD exerceu efeitos semelhantes aos antidepressivos. Aumentou os níveis de dois neurotransmissores, serotonina e glutamato, numa certa região do cérebro (córtex pré-frontal ventromedial).

Universidade de Cantabria, Santander, Espanha.

Linge R, et al. Neuropharmacology 2015;103:16-26.

Ciência/Células — A Anandamida mostrou efeitos anti-câncro em células de glioma humano

O endocanabinóide anandamida aumentou a morte cellular programada e outros efeitos anti-câncro em células de glioma humano. Os autores concluíram que a anandamida "apresenta um potencial terapêutico no tratamento do glioma humano", que é um cancro do cérebro muito agressivo.

Departamento de Neurocirurgia, Zhongnan Hospital da Universidade de Wuhan, China.

Ma C, et al. Mol Med Rep. 28 dez 2015.

[na imprensa]

Ciência/Animais — Canabinóides reduzem a dor da inflamação na anemia falciforme

Os investigadores mostraram que os canabinóides melhoram a activação de mastócitos, a inflamação e a inflamação neurogénica em ratinhos foice via ambos os receptores de canabinóides 1 e 2. Assim, os canabinóides influenciam os mecanismos sistémicos e neurológicos, melhorando a patobiología da doença e a dor em ratos com anemia falciforme.

Universidade do Minnesota, EUA.

Vincent L, et al. Haematologica. 24 dez 2015. [na imprensa]